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Tantra Yoga (Ioga)


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Muito já se falou sobre Tantra Yoga, mas fora dos livros escritos por quem entende do assunto, muitos tentam "vender" o Tantra como se fosse o "viagra indiano".

Os oportunistas de plantão e os viciados em sexo são os primeiros a se animar, só que Tantra Yoga não é nada disso.

Tantra é uma das Escolas da Yoga e surgiu na Índia, por volta do século 500 a.c. . Tornou-se um estilo de vida na época. Não é um ritual, mas um caminho para a expansão da consciência, da união da mente humana com a consciência cósmica, por meio de nossas conquistas e derrotas, pois no Tantra nada se perde, tudo se aproveita.

Não existe "sexo tântrico" e sim uma parte do Tantra, um dos caminhos em que depois de muita preparação, mas muita mesmo, se utiliza o sexo para alcançar a iluminação espiritual.

Esse é o chamado caminho da mão esquerda, existem dois, o caminho bom e o caminho do bem, este último, o da mão direita, é o preferido, inclusive pela maioria dos mestres e professores de Yoga, por utilizar métodos mais puros e individuais para se alcançar o êxtase espiritual, como a meditação e uma série de condutas e práticas.

O chamado caminho da mão esquerda é considerado, por esses mestres, um tipo de magia negra e mera promiscuidade mascarada de religião e nada tem a ver com nossa cultura, mas nada mesmo.

O que podemos aproveitar dessa moderna Escola hinduísta é sua sábia proposta para o auto-conhecimento e crescimento espiritual, mesmo com ensinamentos muitas vezes incompreensíveis e misteriosos e sua simbologia rica e exótica.
Tão vasta é sua simbologia que é impossível abordá-la em um único artigo.

No Tantra o elemento principal é a mulher, representada por diversas Deusas e onde cada detalhe (objetos, vestimentas e ornamentos), tem um significado.

São diversos elementos, mudras (gestos simbólicos), que está presente também na dança indiana, os mantras (palavras de poder), mandalas (círculos) e yantras (figuras geométricas) utilizados na prática meditativa.
É também rico em lendas e contos onde as figuras centrais são as deidades (Shiva, Shakti e as demais Deusas, na verdade diferentes facetas de uma só, Ganesha, Vishnu, Brahma, etc..).

Para entender o tantrismo, antes de mais nada, temos que entender os ciclos da vida ou Eras. No momento, segundo a concepção hinduísta e budista, estamos na Kali Yuga, ou Era das Trevas, do ferro. Nesse ponto, predominam os vícios, a perda de ética, de valores e até da identidade. O mundo entra em decadência, gerando violência e corrupção.
É o caos total, a energia está em colapso e precisa ser reorganizada (qualquer semelhança não é mera coincidência).

O Tantra trabalha com a polaridade de Shiva, que é a consciência cósmica, o princípio estático, o espírito, o masculino e Shakti, que é a energia criativa, o princípio dinâmico, a matéria, o feminino.

Na iconografia esta identidade está representada sob a forma de um casal divino em abraço íntimo, onde ambos, Shiva e Shakti (Deus e Deusa), são o uno.

É aí que entra essa história do sexo no ritual tântrico, onde aspirantes espirituais se propõe a imitar com seus corpos o "coito cósmico", com o qual o casal Shiva&Shakti gera os universos.

Esse ritual só pode ser concebido, amparado pela cultura indiana e conduzido por um verdadeiro guru, que escolhe os parceiros e estes sequer se conhecem, não são nem nunca serão um casal.

No ritual final são consumidos alimentos específicos e ao invés do orgasmo, os iniciados devem, com extremo auto controle e técnicas especiais, fazer subir pela coluna, a energia adormecida no chackra base (na base da coluna) até o chackra coronário (topo da cabeça) e daí para o cosmos, por meio de canais sutis de energia, os nadis.
Fácil né?

Devemos portanto absorver aquilo que está ao nosso alcance e quem realmente está interessado em conhecer a arte da sedução oriental, deveria buscar esse conhecimento no Kama Sutra (ritual ensinado às antigas cortesãs indianas).

No tantrismo aprendemos que não devemos ter medo das crises da nossa Era e sim viver e nos aperfeiçoarmos no meio do caos, enfrentando nossos "bichos", nossa sombra (aquela nossa parte que evitamos ao máximo ter que encontrar, que não fazemos nenhuma questão de ser apresentados), por isso afirma-se que no Tantra nada se perde, tudo se aproveita, até mesmo a energia negativa. É sem dúvida um desafio.

A raiva, por exemplo, é uma energia muito forte e se trabalhada pode se transformar em força. Não é fato que só crescemos com o sofrimento? Só que crescer, mudar crenças, emoções, e hábitos dá trabalho, e muita gente não está com essa disposição toda ("é melhor ficar como está, quem sabe na próxima encarnação").

No Tantra existe outro ponto polêmico, além do sexo, a kundalini, a tal energia adormecida na base da nossa coluna, simbolicamente representada por uma serpente.

Acontece que algumas pessoas quando começam a fazer yoga, pensam que em um mês já estarão se contorcendo (em posturas) ou sairão levitando, ou pior, que podem fazer subir a kundalini e sem esforço nenhum já estarão iluminados. Isso pode ser muito perigoso e se conduzidos por professores inescrupulosos ou levianos, correm até o risco de perder a sanidade mental.

Temos que ser criteriosos e conscientes ao lidar com energia tão poderosa. Nós podemos por meio de exercícios respiratórios (pranayamas) e contrações acelerar esse processo, só que se fizermos isso sem nos alicerçarmos em bases sólidas, podemos perder a noção da realidade, e essa viagem pode não ter volta. É como o efeito devastador do uso prolongado de drogas.

É importante enfatizar, que muita coisa da filosofia oriental pode ser adaptada e imcorporada à nossa realidade, outras não são possíveis e com certeza, uma delas é o ritual tântrico onde se utiliza o sexo.

Se nós conseguirmos cuidar do nosso próprio crescimento em meio a essa confusão e loucura que vivemos, com simplicidade e ao mesmo tempo com refinamento (de sentimentos, gestos, etc..), respeitando a si e ao próximo, buscando o equilíbrio e a paz, elevando assim, um pouco, o nosso nível de consciência.

Não querendo ser diferente só por ser, mas tentando ser diferente para que possamos viver num mundo melhor. Puxa! Já é bacana demais.


Publicado em: 01/02/2000. Última revisão: 23/03/2024
 COLABORADORES 

Carmen Kuasne - jornalista e profª de Yoga - Graduada jornalista, tendo atuado como repórter de TV (Bandeirantes e Record) e participado como assistente de produção do longa-metragem Tanga, do cartunista Henfil. Durante toda década de 90 dedicou-se ao conhecimento e trabalho em Yoga e terapias corporais.
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