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Cistite


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O que é cistite

O trato urinário, formado pelos rins, pelve renal, ureteres, bexiga, próstata e uretra é um importante alvo de invasão de microorganismos.

Em relação a cistite, é importante ressaltar que a infecção do trato urinário (ITU) em mulheres em idade reprodutiva é a segunda mais comum, perdendo apenas para a gripe.

A maioria dessas infecções não atingem os rins, permanecendo confinadas à bexiga ( cistite ).

Nos Estados Unidos, por ano, de 8 a 10 milhões de pessoas, mulheres em sua maioria, procuram médicos por sintomas relacionados à cistite / ITU.

Este artigo abordará principalmente a cistite aguda bacteriana na mulher, que é, disparadamente, a mais comum.

Cistite aguda bacteriana é a invasão da bexiga por bactérias e a sua conseqüente inflamação.

Considera-se episódica quando ocorre até três vezes em um ano e recorrente quando ocorre mais de três vezes em um ano.

Em média, 10 a 20% de todas as mulheres desenvolverão cistite em alguma época de suas vidas.

As mulheres têm 30 vezes mais cistite que os homens, principalmente por terem a uretra mais curta (oito centímetros) comparada com a uretra masculina (22 cm).

Cerca de quatro em cada cinco mulheres que têm cistite, desenvolverão outro episódio infeccioso em 18 meses.

Sua freqüência é maior em mulheres sexualmente ativas dos 15 aos 50 anos de idade, mas pode ocorrer em mulheres sexualmente inativas e até em meninas.


Causas da Cistite

Normalmente, a urina da bexiga é estéril e as bactérias que conseguem vencer os mecanismos naturais de proteção e chegar à bexiga são expulsas pela micção.

O ato de urinar é um dos mais importantes mecanismos de defesa contra a proliferação das bactérias que invadem a bexiga, pois estas são eliminadas à micção.

Se as bactérias multiplicarem-se mais rapidamente que a capacidade da bexiga em expulsá-las pela micção, a infecção acontece.

As principais bactérias causadoras da cistite são a Escherichia coli e o Staphylococcus saprophyticus, habitualmente presentes na flora intestinal e da região em torno da uretra (periuretral), do vestíbulo vaginal (parte externa da vagina) e ao redor do ânus.

A principal maneira como estas bactérias chegam à bexiga é por via ascendente, ou seja, as bactérias da própria paciente "sobem" desde a região periuretral, vagina ou ânus até a bexiga.

As mulheres desenvolvem cistite mais facilmente que os homens porque têm a uretra mais curta; pela menor distância a ser percorrida pelas bactérias, desde a região periuretral até a bexiga e pela proximidade entre o ânus e a região periuretral.


Causas da cistite

Alguns fatores, isolada ou conjuntamente, são necessários para que ocorra a infecção da bexiga:

- Colonização periuretral pelos microorganismos provenientes da flora intestinal por fatores como defecação, sudorese e higiene pessoal inadequada.

- Fatores relacionados ao modo como certas bactérias se aderem à região periuretral.

- A relação sexual é um dos fatores mais importantes da cistite em mulheres, pois, através dos movimentos de penetração, facilita a introdução de bactérias da região periuretral até a bexiga.

- Os fatores naturais de proteção tais como a acidez natural da urina, o muco vesical e a secreção local de imunoglobulinas precisam ser sobrepujados para que ocorra a infecção.

Além disso, existem muitos outros fatores de risco contribuem para o desenvolvimento da cistite:

- Alterações da imunidade geral e local da região periuretral e da bexiga.

- Diabetes.

- Banhos de imersão.

- Certos antibióticos, que destroem temporariamente a flora bacteriana protetora, que compete com a Escherichia coli e outros microorganismos implicados na cistite.

- Alergia a componentes usados em produtos de higiene íntima tais como sabonetes, cremes, loções, óleos, sais para banho etc.

- Anormalidades obstrutivas ou estruturais do trato urinário como fístulas, cistocele, divertículo da uretra, tumores, estreitamentos, cálculos etc.

- Gravidez, onde o risco para o desenvolvimento de cistite é dobrado.

- Menopausa.

- Uso de sonda uretral ou instrumentação das vias urinárias.


O sexo e a cistite

A atividade sexual freqüente aumenta o risco de cistite. Cerca de 80% dos casos ocorrem nas 24 horas que se seguem ao coito.

Um súbito aumento da freqüência da atividade sexual aumenta o risco de cistite, especialmente se a mulher usar diafragma.

Mulheres que se relacionam sexualmente pela primeira vez ou que o fazem intensa e freqüentemente, especialmente após um período longo de abstinência, podem desenvolver cistite.

Esses casos são chamados de "cistite da lua-de-mel".

Preservativos não-lubrificados traumatizam as paredes vaginais e aumentam o risco de cistite.

A cistite aguda bacteriana costuma ser bastante incômoda e, não raro, faz com que a paciente procure ajuda médica prontamente.


Sintomas

O quadro clínico é bastante característico, embora não seja exclusivo.

Os sintomas predominantes são:
- micção dolorosa, ardência ou queimação uretral ao urinar (disúria),
- micção freqüente, em pequenas quantidades e em curtos intervalos (polaciúria),
- desejo forte, repentino e urgente de urinar (urgência miccional),
- dor hipogástrica (região da bexiga, acima do púbis),
- urina sangüinolenta (hematúria).
- A ocorrência de febre é rara.

Pode haver apenas um, alguns ou todos os sintomas descritos. Os sintomas da cistite aguda bacteriana no homem são os mesmos, embora sua ocorrência seja rara no sexo masculino.


Diagnóstico

O diagnóstico da cistite bacteriana aguda é feito pela história clínica, pelos sintomas característicos e por análise laboratoriais.

As mais importantes são o exame comum de urina e a cultura de urina ou urocultura, que demonstrará o tipo e quantidade de colônias da bactéria infectante.

A amostra de urina deverá ser obtida após meticulosa higiene da genitália e subseqüente coleta de uma porção de urina do jato urinário médio, ou seja, despreza-se a primeira e a última parte do jato urinário.

Exames de imagem como ultra-sonografias e radiografias raramente são necessários para o diagnóstico da cistite aguda bacteriana.


Tratamento

O tratamento da cistite aguda bacteriana visa aliviar o desconforto causado pela inflamação da bexiga e erradicar as bactérias causadoras, impedindo sua perpetuação ou ascensão até os rins, provocando uma infecção muito mais séria.

Alguns casos leves podem resolver-se espontaneamente, embora recomende-se seu tratamento específico para evitar riscos como a propagação da infecção até os rins.

A maioria dos casos pode ser tratada ambulatorialmente, sem necessidade de internação hospitalar.

Como medidas gerais, recomenda-se:
- ingestão abundante de líquidos (dois a quatro litros por dia) para aumentar a diurese e diluir a população bacteriana,
- micções completas e repetidas para esvaziar a bexiga;
- evitar ingestão de bebidas irritantes para a bexiga como álcool, refrigerantes e café;
- abstinência sexual enquanto durar a fase aguda;
- higiene genital e perineal meticulosas;
- visitar o ginecologista para tratar possíveis corrimentos ou inflamações vaginais concomitantes.

O emprego de antiespasmódicos, analgésicos e/ou antinflamatórios ajuda a aliviar os sintomas incômodos.

O principal item do tratamento é o uso de antibióticos específicos para a erradicação das bactérias infectantes.

Muitas vezes se escolhe o antibiótico empiricamente, antes do resultado da cultura de urina, visto que grande parte das pacientes não tolera a espera pela chegada dos resultados dos exames; precisam ver-se livres, o quanto antes, dos incômodos sintomas da cistite aguda.

Em geral, o tratamento medicamentoso é bastante eficiente e consegue o alívio dos sintomas em 24 horas e a cura completa do episódio em mais alguns dias.

Quando a cistite aguda é recorrente, naquelas pacientes em que o ato sexual for identificado como fator importante para sua ocorrência, o urologista poderá instituir tratamento preventivo prescrevendo o esvaziamento completo da bexiga após o coito e a ingestão de pequenas doses de antibióticos específicos, logo após o ato sexual.


Prevenção

A adoção de algumas medidas pode ajudar na prevenção da cistite aguda, principalmente nos casos recorrentes.

São elas:

- Preferir o banho de chuveiro em vez de banho de imersão (banheira),
- Lavar os genitais e períneo com água e sabonete após defecar ou urinar,
- Fazer a higiene anal no sentido vagina-ânus, jamais no sentido ânus-vagina,
- Evitar o uso de sprays, desodorantes, perfumes ou duchas íntimas,
- Procurar o ginecologista aos primeiros sinais de corrimento ou inflamação vaginal,
- Tratar a prisão de ventre, se houver,
- Evitar o uso de calças apertadas (jeans); preferir o uso de roupa íntima de algodão,
- Alimentar-se corretamente; ingerir frutas, verduras, legumes e outros alimentos ricos em fibras,
- Beber muito líquido, para promover um aumento da diurese e conseqüente aumento da freqüência urinária, que ajuda a expulsar (lavar) bactérias da bexiga. Para tanto, quaisquer líquidos, exceto os irritantes para a bexiga, são indicados (água, água de coco, chás, sucos, refrescos etc.),
- Evitar bebidas irritantes para a bexiga tais como café, álcool e refrigerantes,
- Procurar obedecer os avisos de esvaziar a bexiga. Quando a vontade de urinar manifestar-se, evitar prender, segurar ou adiar a micção por muito tempo. Quanto mais tempo a urina com bactérias permanecer dentro da bexiga, mais tempo de multiplicar-se terão estas bactérias,
- Antes do ato sexual, esvaziar parcialmente a bexiga. Deixar de 30 a 50% de sua capacidade para promover uma espécie de "almofada d’água" que amortecerá o impacto do pênis sobre a uretra e base da bexiga,
- Urinar imediatamente após o coito, para esvaziar a bexiga e eliminar bactérias que possam ter sido introduzidas durante o ato sexual,
- Fazer adequada higiene perineal e genital antes e após o ato sexual,
- Evitar o uso de preservativos não-lubrificados,
- Seguir as orientações do seu médico quanto ao tratamento de outras enfermidades existentes.

A cistite aguda bacteriana, principalmente a recorrente, poderá ser importante aspecto comprometedor da qualidade de vida de um sem número de mulheres. Portanto, sua ocorrência merece pronto reconhecimento e adoção das medidas necessárias para seu combate.

A participação do urologista é fundamental para o correto estabelecimento do diagnóstico, triagem dos casos que necessitam de acompanhamento e orientação especializadas, bem como para vigilância e prevenção das reincidentes.


Publicado em: 17/06/2001. Última revisão: 17/02/2024
 COLABORADORES 
Dr. Cálide Soares Gomes Dr. Cálide Soares Gomes - Urologista formado em Medicina pela UFMA, 1982, com residência médica em Urologia, HMSA, Rio de Janeiro-RJ. Titular da Sociedade Brasileira de Urologia. Efetivo da Confederacion Americana de Urologia. Efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Professor da Disciplina de Urologia da UFMA. CRM:3011
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