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Aspirina protege ou não do câncer?


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Recentemente, dois estudos publicados na prestigiada revista médica The Lancet mostraram que o ácido acetil salicilico (AAS) pode reduz o risco de as pessoas terem câncer.

Esse fato ganha importância, já que, o ácido acetilsalicilico, conhecido popularmente como Aspirina é um medicamentos mais utilizados pelos brasileiros.

Uma das publicações descreveu os resultados conjuntos de 34 estudos clínicos com redução do risco de morte por câncer em 15%.

A outra publicação, que analisou pacientes de cinco estudos clínicos, mostrou uma redução de 36% na chance do tumor ser disseminado (o que chamamos de metástases).

Ambas as publicações, portanto, foram favoráveis ao uso de AAS para reduzir o risco de câncer.

Entretanto, há pouco mais de um mês, outro estudo sobre o tema, publicado na revista Archives of Internal Medicine, revelou que o AAS comprovadamente reduz o risco de eventos cardiovasculares não-fatais, como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), mas não há redução significativa na mortalidade por câncer.

Então, no que acreditar? Deve-se usar ou não o ácido acetilsalicilico?

A forma de extrair essas informações das publicações é através de uma leitura crítica da produção científica disponível.

Deve-se concentrar na análise apurada da forma como a pesquisa foi planejada e conduzida, assim como a sua análise estatística.

A essa forma de análise, chamados de Medicina Baseada em Evidência (MBE), em que novos tratamentos são recomendados principalmente com base em resultados estatísticos de grandes estudos clínicos.

Todavia, a medicina não deve ser guiada somente por valores numéricos. É preciso analisar a credibilidade dos resultados.

Na questão específica do papel do AAS em relação ao câncer, as revistas médicas, do mais alto prestígio, apresentaram dados conflitantes.

Um olhar mais atendo e treinado, permite compreender melhor os achados.

Existem críticas sobre as publicações na medida em que não incluíram, em suas análises, resultados de outros estudos de grande porte que não identificaram relação entre o uso de AAS e o risco de ter câncer.

Outro fator importante é saber identificar as diferenças estatísticas do que é clinicamente relevante.

Um dos estudos do The Lancet, por exemplo, mostrou que foi necessário tratar 1095 pessoas por um ano para evitar uma morte por câncer.

Desconsiderou questões práticas, por exemplo, como o risco de sangramento digestivo, fortemente relacionado ao uso de AAS.

Apesar de muitas pessoas ficarem confusas e com a sensação de que os resultados irrefutáveis são mais instáveis do que consistentes, os dados são reais e devem ser interpretados com atenção.

A medicina caminha, nesta próxima década, para métodos sofisticados, como a farmacogenômica, que permite identificar quem é aquele paciente entre os 1095 que pode se beneficiar realmente, de forma que se possa evitar o uso de remédios para um número enorme de pessoas que não se beneficia ou até é prejudicado.

Até que esses métodos sejam amplamente disponíveis e validados sob olhar critico, o ideal é ter uma conversa ilustrada com um médico.


Publicado em: 10/04/2012. Última revisão: 08/03/2024
 COLABORADORES 

Redação Saúde na Internet


Comunicação do Sistema de Saúde Mãe de Deus
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Dr. Stephen Doral Stefani Dr. Stephen Doral Stefani é oncologista clínico do Instituto do Câncer Mãe de Deus, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, residência médica em Clínica Médica e em Oncologia Clínica. Fez parte de seu treinamento na University of California San Francisco em um programa conjunto com Stanford. É presidente do capítulo Brasil da International Society of Phamacoeconomics ans Putcome Resear ch (ISPOR) e chair do comitê latinoamericano de políticas de saúde. Membro ativo da American Society of Clinical Oncology (ASCO).
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