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Água: preciosidade líquida


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Quanto custa um copo de água da torneira? Provavelmente o leitor terá um impulso de pensar que não custa nada.

Bem, segundo os padrões atuais tarifários brasileiros é praticamente isto mesmo. Algo como centésimos ou milésimos de centavos por cerca de 100ml. Mas se você for comprar uma garrafa de água mineral a conta ficará em cerca de 10 centavos os mesmos 100ml.

Obviamente temos nessa diferença toda os custos de embalagem, marketing, transporte, impostos e lucro dos comerciantes, entre outros. No entanto, mesmo assim a diferença permanece muito alta.

Isto se deve principalmente a dois fatores: primeiro os custos para o tratamento da água para as condições de potabilidade e qualidade são elevadíssimos, e segundo que por serem empresas privadas explorando as fontes naturais estas valorizam a matéria prima, ao contrário do governo que a subsidia para a população.

Sim, se o leitor acha a sua conta de água cara, saiba que ela está sendo subsidiada. Os custos são bem acima do valor que é arrecadado.

Tudo estaria bem não fosse o abuso de alguns e a ineficiência dos serviços por parte de algumas companhias de abastecimento. Mesmo vivendo num país dotado de recursos hídricos aparentemente inesgotáveis, estamos começando a sentir o caos de perto.

Biólogos há duas décadas atrás já haviam decretado que o século 21 será a era onde países lutarão pela água de qualidade e se esforçarão para reciclar os recursos menos poluídos. Beirando o século 21, o Brasil somente agora constata que 40 a 60% da água tratada é perdida antes de chegar na casa do contribuinte.

Beirando o século 21 vemos pessoas que lavam calçadas empurrando folhas caídas ao custo de litros e litros de água tratada ou que deixam torneiras abertas ao acaso porque, talvez, o preço, comparado com a água mineral, seja muito barato.

Enquanto isso os reservatórios de muitas cidades brasileiras estão entrando no vermelho, sem falar na situação delicada das usinas hidrelétricas que começaram a diminuir sua produção. Este problema está levando o governo a tomar medidas alternativas como a construção de várias usinas termoelétricas, com gás importado, para evitar o déficit elétrico previsto para 2005.

Tudo isto é dinheiro. Dinheiro que o contribuinte paga. Que paga mais, com certeza, se joga água fora. Mas para os que estão pensando que o Brasil é muito atrasado na gestão dos seus recursos hídricos, se engana. A Lei das Águas, instaurada no governo Getúlio Vargas (década de 50), está praticamente inalterada desde então e é ainda bastante atual.

Esta série de leis que se tem diante dos recursos hídricos naturais foram revolucionários para a época em que foram implantadas. A França, por exemplo, somente implantou leis similares com os devidos cuidados às suas reservas de água doce no início da década de 70, quando observou contaminação do lençol freático por produtos industriais, sendo aquele o seu maior reservatório.

Vê-se assim que em termos legislativos o Brasil está muito bem amparado sendo o maior problema o cumprimento das mesmas. Está em preparação a reformulação tarifária da água tratada, que significa perda do subsídio para os contribuintes e/ou maior arrecadação de impostos pelo governo.

No entanto, enquanto não houver uma ampla conscientização das pessoas que devem valorizar melhor a água e racionalizar seu uso, não a poluindo e não a desperdiçando, e da mesma forma o governo exercendo a legislação pela fiscalização do seu uso, dos recursos e pela qualidade do abastecimento como a diminuição emergencial das fugas de água tratada, de nada adiantará a sobretaxa a não ser para o aumento do erário dos cofres públicos.

Desta forma as previsões dos biólogos para o século 21 sobre a água valer tanto como petróleo valerão, contraditoriamente, também para o Brasil, país-continente provido de um imenso recurso hídrico natural.

Ah, com relação a diferença com a França, lá as leis são cumpridas com rigor e com rapidez. Nossa vantagem temporal na legislação acaba se diluindo frente a esta pequena diferença.


Publicado em: 01/07/2000. Última revisão: 22/03/2024
 COLABORADORES 
Rodrigo Beheregaray Rodrigo Beheregaray - Biólogo Mestre em Biociências PUCRS; fundador do Museu Oceanográfico do Vale do Itajaí (MOVI) na Univ. do Vale do Itajaí (UNIVALI); pesquisador na área de zoologia, atualmente em biologia de peixes; membro da Biopampa Consultoria Ambiental Ltda.
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